Carta de Quaresma 2023

Queridos amigos e amigas,

Antecipo a Campanha de Quaresma deste ano de 2023. Como fiz ano passado, volto a dedicá-la aos povos originários que habitam a Terra Indígena Yanomami (TIY), com cujos líderes mantenho contato. 

Todos nós acompanhamos as terríveis imagens dos Yanomami vítimas da fome e do desamparo genocida do governo Bolsonaro. A visita de Lula aos territórios Yanomami, habitados por 30,4 mil indígenas, deu evidência à calamidade que atinge aquele heróico povo ameaçado por desnutrição, garimpo e narcotráfico. Nos últimos 4 anos, morreram 570 crianças, com menos de 5 anos, por causas evitáveis. 

O Ministério da Saúde declarou Emergência em Saúde Pública de Importância Nacional para combater a desassistência sanitária. Instalou um Centro de Operações de Emergência (COE – Yanomami), coordenado pela Secretaria de Saúde Indígena (SESAI). 

O plano para exterminar os Yanomami teve início há 30 anos, quando Bolsonaro, em seu primeiro mandato como deputado federal, apresentou projeto de decreto legislativo para tornar sem efeito a homologação da reserva Yanomami. 

Em 16 de abril de 1998, Bolsonaro discursou na Câmara dos Deputados: “A Cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a Cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado e, hoje em dia, não tem esse problema no país”. Na campanha presidencial de 2018, ele reafirmou: “Não vai ter um centímetro demarcado para reserva indígena”. Já como presidente, em 2020 propôs o Projeto de Lei 191, assinado também por Sérgio Moro, então ministro da Justiça, autorizando garimpo e agronegócio em terras indígenas. Pressão da sociedade impediu que a medida fosse oficialmente efetivada. E ignorou 21 ofícios com pedidos de ajuda aos Yanomami.

Em maio deste ano, a Terra Indígena Yanomami completará 31 anos da sua homologação. Localizada entre Roraima e Amazonas, é a maior área destinada a povos indígenas no Brasil, com 9,6 milhões de hectares de floresta. Nela vivem 700 pessoas da etnia Ye’kwana e, aproximadamente, 29 mil indígenas da etnia Yanomami, distribuídos em 321 aldeias.

Os Yanomami são um dos maiores povos indígenas do planeta que ainda mantêm seu modo de vida tradicional. Constituem um conjunto cultural e linguístico composto por seis idiomas diferentes: Yanomam, Yanomami, Sanöma, Ninam, Yaroamë e Yanoma.

Este grupo de caçadores-agricultores é considerado povo de contato recente. A aproximação com a sociedade não indígena passou a ocorrer na segunda metade do século XX. E logo foi marcado por epidemias que dizimaram muitas comunidades. Entre 1974 e 1976, a abertura da Perimetral Norte impactou severamente os grupos que habitavam as margens dos rios Ajarani e Lobo D´Almada. Na década de 1980, o território Yanomami foi invadido por 40 mil garimpeiros, o que causou a morte de um grande número de indígenas e fortes impactos ambientais.  

Após a homologação da TIY, em 1992, e a a implementação do atendimento de saúde, houve crescimento populacional. Contudo, nos últimos anos tem havido novamente invasão da TIY.

O Sistema de Monitoramento do Garimpo Ilegal na Terra Indígena Yanomami indica que, em 2020, o garimpo avançou 30% naquela área. Foi o ano em que se expandiu com maior intensidade. Entre janeiro e agosto de 2021, o crescimento das cicatrizes de garimpo na TIY foi de 694,61 ha, totalizando 2.933,95 ha destruídos. O acréscimo corresponde ao aumento de 31% em relação a dezembro de 2020, e supera o total observado durante todo o ano de 2020, que foi de aproximadamente 500 ha.

As lideranças indígenas relatam a degradação do meio ambiente, a poluição dos rios, a carência de alimentação, especialmente caça e peixes; o aumento do consumo de álcool e de drogas nas comunidades onde o garimpo ilegal de ouro é mais intenso; o aliciamento de lideranças; o crescimento de conflitos armados com os garimpeiros; o estupro e a prostituição de mulheres indígenas.

Estima-se que haja mais de 20 mil garimpeiros atuando ilegalmente na TIY. Os Yanomami e Ye’kwana percebem que, agora, os garimpeiros passaram a utilizar mais armamentos sofisticados.

Em junho de 2020, dois Yanomami da comunidade Xaruna, região do Parima, foram assassinados por um grupo de garimpeiros armados.

Em fevereiro de 2021, um conflito na comunidade Helepe, no rio Uraricoera, resultou na morte de um garimpeiro a flechadas e ferimentos em um Yanomami.

Em maio de 2021, a comunidade Yakepraopë, região Palimiu, também situada no rio Uraricoera, foi atacada a tiros por garimpeiros fortemente armados, motivando a saída dos agentes de saúde. Um Yanomami foi ferido de raspão, e duas crianças morreram afogadas enquanto fugiam. Os ataques perduraram por mais de um mês, sem proteção do Estado.

Tais episódios trágicos evidenciam a fragilidade das comunidades em lidar com as frequentes invasões de garimpeiros. Soma-se a isso o total abandono da assistência à saúde dos povos indígenas ao longo do governo Bolsonaro. Multiplicam-se as mortes por malária. Em razão da presença de garimpeiros – calculados em 20 mil, que fazem 40 voos por dia -, em 2020 aumentou o número de casos de Covid-19 na TIY, apesar da Portaria nº 419, de 17 de março de 2020, da Funai, que estabeleceu medidas de prevenção à doença e restringiu a entrada no território apenas a atividades essenciais.

Em 2021, as infecções respiratórias avançaram 250% entre os indígenas. Os casos de diarreia são frequentes. Além disso, a malária explodiu em todo o território; ressurgiu inclusive em locais onde já tinha desaparecido, e foi a principal comorbidade associada aos óbitos por Covid-19.

Em 2022, no Hospital da Criança, em Boa Vista (RR), houve 703 internações de crianças desnutridas e afetadas por diarreia, pneumonia e malária, o que representa quase duas por dia. Dessas, 99 faleceram. Pela UTI passaram 65 indígenas. E em janeiro de 2023 foram internadas na unidade 96 crianças yanomami.

As lideranças apontam e denunciam diversos casos de crianças desnutridas, especialmente em locais que sofrem com a exploração dos garimpos. Os rios, contaminados, apresentam água viscosa, o que prejudica a pesca.

A Hutukara, fundada em 2004, é a associação da Terra Indígena Yanomami com maior reconhecimento nacional e internacional por sua atuação, principalmente devido à atuação de seu presidente, Davi Kopenawa Yanomami, na luta pela defesa dos direitos indígenas.

Com os recursos desta Campanha de Quaresma, a associação apoiará as comunidades, e criará um fundo para enfrentar casos emergenciais, como os narrados acima. 

Sua doação, ainda que de R$ 1, poderá se dar na forma de cestas básicas, com alimentação adequada aos costumes alimentares dos povos que habitam a TIY; o envio de kits com ferramentas, produtos de higiene, materiais de pesca e outros utensílios industrializados, atualmente necessários para os Yanomami; além de apoiar ações de saúde, como o envio de testes rápidos para Covid e/ou malária, e atendimento a pacientes internados nos postos de saúde na TIY e/ou na Casa de Saúde do Índio ou no Hospital da Criança Santo Antônio, localizados em Boa Vista.

Os recursos eventualmente poderão ser aplicados também em viagens de lideranças tradicionais e/ou representantes das associações para denunciar casos de violência e desrespeito aos direitos humanos.

Conta bancária:
Hutukara Associação Yanomami
Banco do Brasil
Agência: 2617-4
Conta corrente: 58.918-7
PIX / CNPJ: 07.615.695/0001-65
Chave aleatória PIX: 8b323044-0123-49e5-8938-03bdc8491277

EMAIL (caso queira recibo ou algum esclarecimento): hutukaraassociacaoyanomami@gmail.com
(Identificar a mensagem com o título Campanha Quaresma Yanomami 2023)

Há ainda duas outras associações Yanomami que recebem doações: Associação Ypasali Sanuma (PIX / CNPJ: 34.141.441/0001-25) e Urihi Associação Yanomami (Pix: conselhodaf@gmail.com). CNPJ: 34.807.578/0001-76

Por favor, divulgue esta campanha nas redes digitais e entre seus familiares e amigos.

Agradeço a sua solidariedade. Deus lhe pague.

       Meu abraço com amizade e paz

       Frei Betto

Conferencia Magistral de Frei Betto: ¿Es la religión opio de los pueblos?

Plenário da Conferência

La Habana 25 de enero de 2023.- El fraile dominico brasileño Frei Betto, miembro del Consejo Mundial del Proyecto José Martí de Solidaridad Internacional, ofreció en la sesión de la mañana una Conferencia Magistral en el Palacio de Convenciones de La Habana, como parte del programa de la V Conferencia Internacional por el Equilibrio del Mundo “Diálogo de Civilizaciones”, evento que tiene lugar en La Habana, del 24 al 28 de enero del año en curso.

Bajo el título “¿Es la religión opio de los pueblos?”, el reconocido teólogo formuló un análisis sobre la cita acuñada por Karl Marx en “Contribución a la Crítica de la Filosofía del Derecho de Hegel” publicada en 1844 en el periódico Deutsch-Französischen Jahrbücher.

En sus observaciones explicó la interpretación equivocada de las ideas del filósofo alemán sobre la religión, revelando que Marx no atacó a la religión en general, sino al cristianismo como una confusión entre estado policial y religión cristiana, defendiendo la tesis de que un cristiano no puede aceptar el capitalismo, porque desde un punto de vista ético eso equivale a adoptar una postura demoníaca.  Igualmente mencionó a Engels, recordando que este también tenía antecedentes religiosos, y que escribió dos importantes artículos sobre la religión: “Bruno Bauer y el cristianismo” de 1882 y “Contribución a la historia del cristianismo primitivo”  de 1895, en este último cita a los primeros cristianos como pioneros del comunismo y subraya la naturaleza liberadora del cristianismo. Llegó un momento en que Marx ya no consideraba necesario el ateísmo y escribió “El ateísmo como negación de esta falta de esencialidad ahora carece totalmente de sentido, porque el ateísmo es la negación de Dios y afirma a través de esta negación la existencia del hombre, pero el socialismo como socialismo ya no necesita tal mediación, es una autoconciencia positiva no mediada por la religión”.

Por lo que Frei Betto observa  que en la óptica de Marx y Engels el socialismo sería la superación práctica  de la religión y Marx nunca estuvo de acuerdo con el ateísmo militante.

Citó varios pasajes de la entrevista registrada en el reconocido libro “Fidel y la religión” dónde el líder de la Revolución Cubana entiende y analiza la dialéctica de esta frase de Marx.

Frei Betto - Cuba en Resumen

Cuba en ResumenCuba en Resumen

Del mismo modo se refirió a cómo Fidel Castro superó el prejuicio de que no había posibilidad de conciliar religión y revolución, cuando afirmó: “desde un punto de vista estrictamente político se puede ser marxista sin dejar de ser cristiano y trabajar junto a los comunistas marxistas para transformar el mundo, lo importante es que en ambos casos son revolucionarios sinceros, dispuestos a erradicar la explotación del hombre por el hombre y a luchar por la justa distribución de la riqueza social, por la igualdad, por la fraternidad, por la dignidad de todos los seres humanos, es decir, son portadores de la más avanzada conciencia política, económica y social, aunque en el caso de los cristianos se base en una concepción religiosa.”

También relató cómo para Fidel la expresión “La religión opio del pueblo” pudo haber sido justa en un momento dado y seguir siendo válida en algunas circunstancias pero: “de ninguna manera esta frase tiene ni puede tener carácter de dogma o verdad absoluta, es una verdad ajustada a ciertas condiciones históricas concretas, creo que es absolutamente dialéctico y marxista llegar a esta conclusión, en mi opinión la religión desde un punto de vista político no es en sí misma un opio ni una cura milagrosa, puede ser opio o medicina maravillosa en la medida que sirve para defender a los opresores- explotadores o defender a los oprimidos- explotados.”

Antes de culminar la conferencia explicó que “el fenómeno religioso no solo impregna la cultura de los pueblos sino que hoy en día está en expansión, llamando la atención sobre cómo las fuerzas de la derecha se han aferrado a la religión porque reconocen su alcance popular que facilita la manipulación de las conciencias para naturalizar las desigualdades sociales, exaltar la individualidad y alimentar la abnegación en situaciones de opresión. En ese sentido la religión difundida por la derecha es el opio que pretende desmovilizar las fuerzas populares potencialmente revolucionarias para postergar hasta la eternidad el derecho a una vida feliz y digna.”

“La hermenéutica tendrá que entrar en la agenda de la militancia de izquierda, no significa manipular la conciencia como hace la derecha, si no reaprender a valorar la fe de las personas más sencillas y ayudarlas a hacer una lectura liberadora de la biblia, considerada por ellos la palabra de Dios.”

Cuba en Resumen
Por Syara Salado Massip / Víctor Villalba Gutiérrez / Resumen Latinoamericano Corresponsalía Cuba.