“Fortalecer a Democracia, o Esperançar e o Bem Viver” é o tema do 13º Encontro Nacional de Fé e Política, que se realizará de 24 a 26 de abril de 2026, em São Bernardo do Campo (SP).
Nesse tempo em que o desencanto ameaça a esperança e o individualismo sufoca a solidariedade, o evento se apresenta como um oásis de resistência, reconstrução e chamado à ação.
O Brasil atravessa um momento decisivo. Após anos de retrocesso democrático, desigualdade crescente e crise ambiental, multiplicam-se os sinais de uma sociedade exausta e fragmentada. Mas é justamente nessas horas que se revela a força da espiritualidade libertadora e do compromisso ético com o bem comum.
O Encontro de Fé e Política, que há décadas articula militantes de comunidades pastorais, movimentos populares, escolas, partidos políticos e organizações da sociedade civil, renova agora o convite para que a fé e a política voltem a caminhar de mãos dadas sem, no entanto, perderem suas respectivas identidades. A sabedoria consiste em não confessionalizar a política nem partidarizar a religião.
Esperançar: verbo que se conjuga em coletivo
Esperançar, expressão cunhada por Paulo Freire, não é esperar passivamente. É mover-se, semear, construir. É o verbo dos que creem que a história é sempre maior do que a eventual desesperança do presente. “Quem sabe faz a hora, não espera acontecer.”
No 13º Encontro Nacional de Fé e Política, o esperançar se tornará prática compartilhada: nas rodas de conversa, nas plenárias, nas experiências de base que serão apresentadas como sinais de transformação concreta. Cada testemunho de resistência e solidariedade, vindo dos rincões do país, mostrará que há um Brasil que não se resigna e resiste frente às diferentes formas de opressão e discriminação.
Esperançar é também um ato político. Em tempos de desencanto com a política – e em pleno ano eleitoral -, reafirmar o valor do diálogo, da diversidade e da participação popular é uma forma de espiritualidade. Não há fé autêntica sem compromisso com a justiça; não há política legítima sem combate às desigualdades sociais e cuidado com todas as formas de vida.
O 13º Encontro pretende, portanto, ser um espaço de renovação de confiança na democracia, não como mera formalidade institucional, e sim exercício cotidiano de convivência e corresponsabilidade.
Democracia como expressão da fé no outro
A democracia não é apenas um regime de governo, é um modo de acreditar que cada pessoa possui uma dignidade inegociável, que o poder deve ser serviço e não dominação, que a diversidade não é ameaça, mas riqueza. Fortalecer a democracia, hoje, é enfrentar os discursos de ódio, a desinformação e o autoritarismo travestido de ordem moral. É reafirmar o valor da política como expressão da dimensão social do amor.
O Encontro de Fé e Política é uma celebração da pluralidade de caminhos que convergem na busca do bem comum. Católicos, evangélicos, espíritas, adeptos das religiões afro-brasileiras, pessoas de espiritualidade livre — todos são chamados a partilhar a mesma mesa, onde o pão se reparte e a palavra circula. Porque a fé que liberta é a que se compromete com o outro; a que se faz ponte, não muro, como dizia o papa Francisco.
O Bem Viver: horizonte de uma nova civilização
Inspirado nas tradições indígenas e latino-americanas, o Bem Viver (Sumak Kawsay) nos recorda que não há vida plena quando a natureza é mutilada e os povos originários são descartados. O Bem Viver é uma proposta civilizatória que rompe com o paradigma do consumo e do lucro, recolocando a vida no centro da organização social. No 13º Encontro, o Bem Viver será horizonte e prática: nas reflexões sobre economia solidária, agroecologia, cultura da paz e espiritualidade ecológica.
O Bem Viver é um convite à conversão — não apenas religiosa, mas ética e existencial. Converter-se ao Bem Viver é desaprender o domínio e reaprender o cuidado; é reconhecer a interdependência entre humanos e toda a Criação. Em tempos de colapso climático e avanço da cultura do descarte, proclamar o Bem Viver é afirmar a urgência de outro modo de estar no mundo, guiado por respeito e reciprocidade.
Um encontro de fé e compromisso
Desde sua primeira edição, em 1989, o Encontro Nacional de Fé e Política tem sido um espaço fecundo de formação, articulação e profecia. Ali se encontram bispos e lideranças de base, teólogos e agricultoras, religiosos e militantes políticos, intelectuais e jovens de periferias. Todos movidos pela mesma convicção de que a política é lugar de testemunho da fé e construção do Reino de Deus.
O 13º Encontro quer atualizar essa mística à luz dos atuais desafios. Diante das novas tecnologias que moldam consciências, de fake news que envenenam o debate público e das desigualdades que persistem, é preciso reafirmar que a fé cristã e as espiritualidades libertadoras não se omitem. Engajam-se, questionam, propõem. Colocam-se ao lado dos empobrecidos, dos sem terra e sem teto, das mulheres, dos povos indígenas, dos quilombolas, dos migrantes, dos homossexuais, da juventude periférica — de todos os que insistem em existir com dignidade.
Convocação à presença e à ação
Venha participar do 13º Encontro! Este não é um convite protocolar, mas uma convocação. Não apenas para ouvir, e sim partilhar, propor, sonhar juntos. Nosso evento será um espaço de escuta dos clamores do povo e compromisso com a construção de uma sociedade justa e fraterna.
Traga sua experiência, sua dor e sua esperança. Traga a memória das lutas e a coragem de recomeçar. A democracia se fortalece quando os corações se abrem, as diferenças se reconhecem e a fé se faz serviço. O esperançar se renova quando o encontro se torna ação. O Bem Viver floresce quando a vida é celebrada em comum.
O tempo é agora
Vivemos um tempo em que o futuro parece sequestrado pela incerteza. Mas há sementes germinando nas margens, nas comunidades, nas pastorais, nos movimentos populares e identitários, nas pequenas ações cotidianas que tecem solidariedade. O 13º Encontro Nacional de Fé e Política é o terreno onde essas sementes se encontrarão para florescer em conjunto.
Esperamos que este não seja apenas um evento, mas um pacto coletivo pelo futuro, onde o sonho de um Brasil justo, plural e solidário se torne nossa prática cotidiana.
Frei Betto é escritor, autor da tetralogia sobre os evangelhos – Jesus Militante (Marcos); Jesus Rebelde (Mateus); Jesus Revolucionário (Lucas); e Jesus Amoroso (João) -, todos editados pela Vozes, entre outros livros.
